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Além da energia dos nossos corpos somos consumidores vorazes de energias do meio que nos cerca. Atitude que nenhum outro ser vivo apresenta. O leão descansa de 16 a 20 horas por dia, para economizar energia e poder caçar. O urso hiberna seis meses para acumular energia e pescar na primavera. Das bactérias aos elefantes, a economia e eficiência energética são características ligadas à sobrevivência, tendo a vida limitada à quantidade de energia que acumulam e aprendem a gastar com eficiência.

Menos os humanos. Para gerar energia dominamos os elementos naturais - água, sol, vento, fogo. Das rodas d’água com engrenagens de madeira às sofisticadas hidrelétricas. Dos cataventos aos aerogeradores, do aquecimento direto pelo sol aos painéis solares.

Também, desde remotos tempos, domesticamos os animais para gerar a energia necessária e aumentar a eficiência do trabalho. Alguém amarrou um boi na ponta de uma vara e fez rodar a engrenagem de uma moenda para produzir açúcar, fazer farinha, descascar arroz. Nós nos movemos com energia do meio quando inventamos a roda e logo colocamos uma parelha de burros para puxar a carroça. Daí à mobilidade com petróleo foi um pulo, mesmo que trazendo combustível das profundezas aonde a terra o confinou, provocando crescente desequilíbrio no ciclo biogeoquímico do carbono, ao produzir excesso de gases da combustão que produzem aquecimento global.

Um artigo publicado pelo jornalista Washington Novaes na Newsletter “Fronteiras da Energia”, traz números contundentes sobre o papel que cabe à nossa geração em reverter os danos atmosféricos causados pelos gases do efeito estufa. Seremos os últimos humanos, por sermos energívoros?

Nos tornamos consumidores intensivos e compulsivos de energia além dos nossos limites, para tudo de que precisamos. Alimentos, moradias, roupas, mobilidade, conforto térmico, trabalho. E com isso nos viciamos. A energia que exigimos tornou-se uma necessidade corriqueira e tendemos a usá-la de forma inconsciente como consequência desta voracidade humana e do modelo de acesso que seguimos. Um click no interruptor da parede basta para servirmo-nos. Porém a soma de todas as nossas ações inconscientes produz uma demanda coletiva gigantesca e crescente, agravada pela nossa forma de organização. Produzimos todos os dias um pico de demanda coincidente quando chegamos em casa, entre 18 e 21 horas, e acendemos todas as lâmpadas. Vamos ao posto de gasolina repetidas vezes e enchemos o tanque do carro sem refletir sobre o que foi realizado para se ter o acesso facilitado. Definitivamente não somos educados para cogitar sobre quanta tecnologia, trabalho humano e infraestrutura se aplicam para termos a comodidade de obter energia ao nosso alcance. Desperdiçamos muito, tanto de maneira direta, utilizando equipamentos e serviços inadequados, como indireta, desperdiçando energia na ineficiência de procedimentos e processos.

Segundo relatório recente da FAO - Os Rastros do Desperdício de Alimentos: Impactos sobre os Recursos Naturais (agosto 2013) -, enquanto mais de 800 milhões de pessoas no mundo passam fome, estima-se que mais de um milhão de toneladas de alimentos viram lixo todos os anos. Fatos por si inadmissíveis. Os desperdícios de alimentos em grande escala carregam com eles a energia desperdiçada para produzir. Esse estudo da FAO demonstrou que 54% do desperdício ocorrem nas fases de produção, até a armazenagem, e é mais intenso em países em desenvolvimento. Enquanto isso, 46% ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo. E o desperdício ocorre mais frequentemente em países desenvolvidos que servem ao mercado alimentos praticamente prontos para consumo. Somadas as perdas, o custo econômico do desperdício foi estimado em US$ 750 bilhões/ano. Já os custos ambientais anuais decorrentes estimados são de 3,3 bilhões de toneladas equivalentes de CO2 e de 250 quilômetros cúbicos de água diretamente envolvidos na produção. É inevitável o prognóstico de uma crise energética, da qual provavelmente sairemos ainda que vítimas da nossa própria voracidade.
 
Reeducação energética
Para reverter previsíveis prognósticos catastróficos há necessidade de nos reeducarmos. E isso é uma exigência não só para as pessoas, consumidoras passivas e inconscientes, mas também para o próprio setor gerador, distribuidoras de energia. As relações entre o setor das energias e a sociedade consumidora não pode ser uma simples relação de mercado, em que a parte geradora/distribuidora se protege com normas e regulamentos e a parte consumidora simplesmente a eles se submete. A dependência energética faz da energia uma questão estratégica.

Definitivamente, o modelo de fornecimento e consumo de energia elétrica ou combustível não se sustenta da forma como está, com o segmento fornecedor se mantendo a distancia da massa consumidora. É preciso um novo modelo que reconheça a importância da via de mão dupla entre fornecedores e consumidores seguindo uma estratégia poupadora comum. Na atualidade vivemos com um modelo que na parte fornecedora mantém um espetacular avanço tecnológico, com quadros técnicos e administrativos altamente qualificados, e que mantém incontestável eficiência em geração, transmissão e distribuição de energia. Estabelece sim o contato com os consumidores, porém restrito ao relacionamento “modelo SAC”, ou de atendimento estritamente comercial.

Os consumidores não têm canais para se manifestarem sobre o atendimento prestado pelas concessionárias. Na prática não há comunicação nem relacionamento estratégico além do operacional, para construir uma necessária sincronia, entre os consumidores e os integrantes dos sistemas de produção e vice versa. Seria necessário, antes de tudo, os fornecedores abdicarem da ideologia de quanto maior o consumo de energia, maior o volume de lucro e melhores os indicadores econômicos e negociais para o setor gerador. Não é difícil perceber que esta desejável mudança do padrão de negócios só será possível a partir de um considerável esforço de reeducação energética. E isto, se ocorrer de fato entre os principais níveis envolvidos. Do cidadão consumidor, estimulando a mudança de hábitos consumistas, até a área técnica e a administrativa do sistema.

Recentemente, em Julho de 2013, o Manual de Eficiência Energética – ANEEL anuncia pela primeira vez a possibilidade de incluir nos projetos de eficiência energética a microgeração até 1 MW e com isso estabelece uma cartilha completa sobre gestão da energia. Certamente um passo gigantesco para um modelo em que, além de consumidora, a atividade é também geradora de sua própria energia, com fontes renováveis próprias. Esse Manual é básico para a reeducação energética, que se faz necessária porque traz elementos para orientar um comportamento eficiente em relação à energia. E isso significa que o sistema pode navegar para um modelo em que a participação dos consumidores venha a se tornar mais ativa. Nada impossível depois dos 25% de redução de demanda que alcançamos nos apagões de 2001 e 2002.

Artigo originalmente publicado em 20/2/2014

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Juliano Corrêa
10/03/2014 - 09:18
Parabéns Cícero pela matéria.

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1 comentário

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